Colecionismo é, de maneira bastante direta, o ato de procurar itens parecidos de um mesmo tipo/espécie e mantê-los consigo de maneira afetiva. Esse consumidor acaba por distinguir-se dos demais por ter uma verdadeira paixão por um determinado tipo de item e, geralmente, o uso dado aos itens é diferente do que suas funções originais indicariam. Essas coleções podem ser de diversos tipos: obras de arte, carros, edições comemorativas de brindes, antigos cartões telefônicos, moedas do mundo, entre tantos outros.
Em geral, esses emotional assets estão relacionados a pessoas de alta renda ou ao menos que podem ter renda suficiente para a manutenção de tais coleções, como veremos a seguir. Realmente trata-se de um mercado de amplas possibilidades. E ele pode ser explicado através de um conceito econômico chamado Função de Utilidade.
Dentro da economia o que se conhece por Função de Utilidade é a atribuição de valor a algo e, na prática, isso varia de pessoa para pessoa – ou, no economês, cada pessoa tem sua própria. De maneira direta, esse conceito mostra que, levando em conta pessoas que têm a mesma quantia de dinheiro, seu consumo provavelmente irá variar de acordo com marcas diferentes porque as preferências podem ser diferentes.
Unindo os conceitos de colecionismo e função de utilidade, temos que o colecionador é aquele indivíduo cuja função de utilidade atribui valor maior a itens específicos geralmente fora de seu meio comum de utilização.
Vamos a alguns exemplos para que fique mais claro ao leitor que eventualmente não tenha ainda compreendido a relação entre as duas coisas.
Um dos maiores colecionadores de relógios do país é o apresentador Fausto Silva. Em sua coleção estão peças que vão de alguns milhares até mesmo milhões de reais. O cuidado é tamanho que, além de ter em sua residência um cômodo específico para guardar sua coleção, mantém um funcionário apenas para essa manutenção – também, pudera: peças que custam em média R$100 mil e chegam a superar R$1 milhão demandam cuidado. Mais recentemente, apresentando de seu apartamento o Domingão do Faustão, descobrimos também que ele é colecionador de carros em miniatura, tendo mais de 1.500 unidades.
Em reportagem de 2016 conhecemos quatro dos maiores colecionadores de carros do país. Entre Mercedes Benz, Porsches e raridades como a única unidade do mundo do Moon 6-45 Piton 1918 (cuja montadora fechou em 1930). Um dado interessante também encontrado nessa reportagem: segundo a consultoria Hagerty, enquanto entre 2006 e 2014 a bolsa praticamente andou de lado e o ouro se valorizou em 100%, o mercado de carros antigos registrou alta de 250%. Por aqui o leitor já consegue compreender que, além de ser um hobby o colecionismo também pode ser bastante lucrativo.
Obras de arte também formam um mercado movimentado. Recente entrevista com uma consultora de Art Advisory & Finance de um grande banco, podemos observar como algo que é estritamente dependente da função de utilidade de cada um – e não apenas da mera escassez – é passível de virar investimento. É destacado nessa entrevista que, para além do desejo de colecionar e dos vultosos recursos envolvidos, é preciso que a pessoa tenha certo amor pela arte que justifique as aquisições.
Uma das bebidas mais nobres do mundo também está entre os itens de colecionadores: uma edição especial do whisky The Macallan já foi arrematada por mais de R$5 milhões de reais e tiragens limitadas fazem com que milionários mundo afora paguem verdadeiras fortunas por rótulos da marca. Aliás, em 2019, dentro do mercado de luxo, foi justamente essa bebida a que mais se valorizou: cerca de 40%, de acordo com o Knight Frank Rare Whisky 100 Index.
Vejamos que em todos estes casos existe a aficção por itens que não necessariamente serão utilizados em sua função principal e se acumulam de maneiras diferentes sob a posse das pessoas. Fausto Silva guarda seus relógios, mas não consulta as horas em todos eles ao mesmo tempo, nem “brinca” com os carrinhos em miniatura; os colecionadores de carros os mantém bem cuidados em suas garagens, não necessariamente “dando uma voltinha” com cada um deles o tempo todo; os donos das obras de arte mais seletas do mundo não necessariamente abrem suas mansões para que o mundo possa vê-las; também é muito improvável que os donos dos whiskies mais caros do planeta façam o consumo da sua coleção em festas de família a cada fim de semana.
Qual é o tamanho do mercado de colecionismo no mundo?
Mas, para além das paixões despertadas pelo colecionismo, também existem os mercados envolvidos, o aferir de lucros que se consegue fazer sobre as transações de itens específicos que movem tais paixões.
Em nosso país temos um fundo focado em artes plásticas, chamado Brazil Golden Art. A ideia do fundo é ter participações diferentes tanto de obras de artes de artistas renomados quanto aqueles que apresentam potencial de valorização ao longo do tempo. De maneira bem direta, como todo fundo de investimento ou instrumento financeiro, objetiva no longo prazo ter retornos positivos através das transações relacionadas neste mercado.
O mercado de colecionismo no mundo é considerável: estima-se que esteja na casa dos US$370 bilhões. A distribuição é vasta, como se pode observar no gráfico a seguir:
Outro exemplo que temos no Brasil do mercado de colecionáveis – que inclusive é um dos itens de destaque do gráfico – é o de moedas: a startup O Numismata reúne os amantes desse tipo de coleção e faz o intermédio entre compradores e vendedores de moedas.
Segundo o que apresentam, o interesse por esse mercado de nicho sempre esteve presente em nosso país, mas aumentou após as Olimpíadas de 2016 e as moedas especiais lançadas em comemoração aos jogos. Ainda dentro do colecionismo de moedas temos também o Collectgram, marketplace específico para quem quer comprar e vender moedas.
De mero hobby a profissão, de paixão específica a mercado, é possível perceber com os diversos exemplos aqui apresentados como o colecionismo é um meio da economia real em que você pode não só transacionar itens como também fazer um bom dinheiro com eles. Seja por meio de fundos de investimento específicos ou mesmo pela aquisição e venda de coleções diretamente, temos que aquilo que no passado até poderia ser chamado de “acumulação sem sentido” hoje, em um mundo bastante conectado, pode ser na verdade um meio bastante rentável para aplicar seu dinheiro.
No mundo dos investimentos alternativos e ativos reais, o colecionismo pode começar a aparecer com mais frequência nas transações que envolvem esse mercado.
Publicado originalmente em: https://terracoeconomico.com.br/colecionismo-como-ganhar-dinheiro-com-itens-procurados-e-exclusivos/