O Banco Central do Brasil (BC) decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master na esteira de uma operação da Polícia Federal que apura um esquema bilionário de fraude com carteiras de crédito inexistentes. O controlador da instituição, Daniel Vorcaro, foi preso em São Paulo durante a operação Compliance Zero, que também atingiu ex-sócios e diretores do banco.
A decisão de liquidar o Banco Master encerra meses de desconfiança em torno do modelo de negócios da instituição, marcada por captação agressiva via CDBs de alta taxa e por uma tentativa frustrada de venda ao Banco de Brasília (BRB), vetada pelo BC em setembro. Pouco antes do desfecho, um novo interessado — o grupo de investimentos Fictor — chegou a avaliar a compra de ativos do Master, mas o negócio foi cancelado depois que o Banco Central determinou o fechamento do banco.
A seguir, explicamos em detalhes o que aconteceu, o que a investigação descobriu, por que o BC barrou a venda, como ficam os investidores que tinham CDBs do Banco Master e o que esse caso ensina sobre a importância de ativos com lastro real e diversificação.
Como o Banco Central chegou à liquidação do Banco Master
A decisão do BC de decretar a liquidação extrajudicial significa, em termos práticos, que o Banco Master deixa de operar como instituição financeira: suas atividades são paralisadas, um liquidante indicado pelo Banco Central assume o controle e começa o processo de apuração de ativos e passivos, com foco em proteger o sistema financeiro e organizar o pagamento de credores.
De acordo com a agência AP, o Banco Master chegou a registrar até US$ 16 bilhões em ativos (algo em torno de R$ 80–90 bilhões, a depender do câmbio), mas enfrentava problemas de liquidez há meses. O BC, ao anunciar a liquidação, também determinou a apreensão dos bens do banco e de seus atuais e ex-administradores, reforçando o caráter excepcional da medida.
Não foi uma decisão tomada no vácuo. Em 3 de setembro de 2025, o Banco Central já havia vetado a compra de 58% do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), negócio que envolveria cerca de R$ 23 bilhões em ativos. Analistas de mercado apontaram à época que o veto expôs fragilidades relevantes no modelo de negócios do Master, inclusive a qualidade e a transparência de parte de suas carteiras de crédito.
Na prática, o BC enviou, naquele momento, um sinal claro: havia dúvidas estruturais sobre a solvência e a integridade das operações do banco. A liquidação, decretada após o avanço da investigação criminal, foi o passo seguinte quando ficou evidente que a continuidade da instituição oferecia risco ao sistema financeiro.
O que a PF e o MPF dizem que aconteceu: fraude bilionária com carteiras de crédito inexistentes
A Operação Compliance Zero, deflagrada pela Polícia Federal, atingiu diretamente o coração da gestão do Banco Master. Segundo reportagem do R7, a investigação conduzida pela PF e pelo Ministério Público Federal identificou indícios de que o banco comandado por Daniel Vorcaro vendeu cerca de R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito inexistentes ao BRB, apresentando documentos falsos tanto ao banco comprador quanto ao Banco Central para justificar as operações.
Na prática, isso significa o seguinte:
o Master teria declarado possuir créditos (empréstimos, recebíveis, financiamentos) que não existiam de verdade, mas que eram apresentados em registros e documentos como se fossem ativos legítimos. Esses “créditos fantasmas” teriam sido incluídos em carteiras vendidas ao BRB, inflando artificialmente o balanço e a capacidade de geração de caixa do banco.
Além de Vorcaro, a PF também prendeu ex-sócios e diretores do Banco Master, investigando a participação de todos na emissão de títulos de crédito sem lastro e na apresentação de informações falsas às autoridades.
Em resumo, a acusação central é de que o banco construiu parte relevante de seu “ativo” em cima de números que não correspondiam à realidade econômica — algo muito além de uma simples má gestão de risco: trata-se, em tese, de fraude deliberada no sistema financeiro.
O veto do BC à compra pelo BRB e o papel da Fictor na reta final
Antes da Banco Master – liquidação, havia uma expectativa de que a instituição fosse “salva” por uma venda estratégica. O movimento mais avançado nessa direção foi a tentativa de aquisição pelo Banco de Brasília (BRB).
O negócio, anunciado inicialmente em 2024 e ajustado ao longo de 2025, previa que o BRB comprasse fatia majoritária do Master, incorporando ativos e carteira de clientes. Porém, em setembro de 2025, o BC rejeitou a operação.
Segundo análise publicada pelo Estadão E-Investidor, o veto se baseou em preocupações técnicas com:
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o modelo de negócios do Master, considerado mais arriscado;
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a qualidade dos ativos que seriam transferidos;
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e o potencial impacto da transação sobre a estabilidade do sistema.
Na época, o mercado já falava em possível intervenção ou liquidação caso nenhuma alternativa de reestruturação fosse encontrada.
Paralelamente, outros atores chegaram a ser citados como potenciais interessados. Em 2025, o BTG Pactual precisou vir a público negar oficialmente qualquer proposta de compra de ativos ou participação no capital do Banco Master, após questionamento da CVM.
Na reta final, um novo nome apareceu: Fictor, grupo de investimentos que avaliava adquirir ativos do Banco Master. Contudo, segundo a AP, o movimento ficou pelo caminho: com a decisão do Banco Central de fechar o banco, a aquisição pendente pela Fictor foi cancelada.
O encadeamento é claro:
primeiro, o BC barra a venda ao BRB;
depois, as investigações criminais ganham corpo;
por fim, com a liquidação decretada, qualquer negociação privada perde sentido — e o Master deixa de ser um banco “vendável” para se tornar um caso de resolução regulatória.
CDBs agressivos e modelo de risco: como o Master captava dinheiro do investidor
Enquanto tudo isso acontecia nos bastidores regulatórios, o Banco Master se tornava conhecido no varejo por outro motivo: CDBs com taxas muito acima da média.
Reportagens recentes apontam que o banco chegou a oferecer CDBs amplamente distribuídos ao público com taxas em torno de 120% do CDI. O objetivo era para captar bilhões de reais junto a investidores pessoas físicas. Em momentos de maior tensão, no mercado secundário, prêmios chegaram perto de 180% do CDI, refletindo o medo crescente de liquidação entre os investidores. E, ao mesmo tempo, a tentativa de tornar os títulos mais “vendáveis” para quem ainda topasse assumir o risco.
Esse modelo — captar caro, pagar muito acima dos grandes bancos e usar o dinheiro para sustentar operações de risco ou ativos de qualidade duvidosa — já vinha sendo questionado por analistas há algum tempo.
Com a Banco Master – liquidação, o que antes parecia um diferencial atrativo (a taxa alta) revela o outro lado da moeda: o investidor descobriu, na prática, que rentabilidade fora da curva costuma vir acompanhada de risco fora da curva — especialmente quando o emissor é um banco médio com modelo de negócios controverso.
E agora? O que acontece com quem tinha CDBs do Banco Master
Para o investidor de varejo, a pergunta é objetiva: vou recuperar meu dinheiro?
O caminho, a partir da liquidação extrajudicial, segue um roteiro conhecido no sistema financeiro brasileiro:
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Os depósitos e instrumentos elegíveis — como CDBs, RDBs e alguns outros títulos — passam a ser analisados para cobertura pelo FGC. Detalhe para o limite de R$ 250 mil por CPF e por instituição.
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O FGC, que é uma entidade privada mantida pelos próprios bancos, organiza o ressarcimento desses valores. Isso acontece após receber do liquidante os dados consolidados de saldos, titulares e condições dos contratos.
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Valores acima do limite do FGC entram na fila da massa liquidanda. São créditos contra o banco em liquidação, que serão pagos (ou não) conforme os ativos forem vendidos e os valores arrecadados. Sempre respeitando a ordem legal de preferência entre credores.
Ou seja:
quem tinha até R$ 250 mil por CPF no Banco Master, somando todas as aplicações cobertas, tende a ser ressarcido pelo FGC. Contudo, isso não ocorra de um dia para o outro.
Já quem tinha valores superiores depende diretamente da capacidade de recuperação de ativos do banco. Esse processo que pode ser longo, complexo e com desfecho incerto.
Esse caso reforça uma lição importante: não basta olhar a taxa de juros e o selo “coberto pelo FGC”. Concentração de valores elevados em um único emissor — sobretudo um banco médio que paga muito acima da média — é um risco concreto.
O que o caso Banco Master ensina sobre lastro real, diversificação e escolha de ativos
No centro da crise do Banco Master está um ponto técnico, mas fundamental: lastro real.
As investigações indicam que o banco vendeu carteiras de crédito que não tinham existência econômica verdadeira, mas constavam em documentos como se fossem ativos robustos. Isso é o oposto do que se espera de um sistema financeiro saudável, em que os títulos emitidos por uma instituição correspondem a operações verificáveis.
Para o investidor, isso mostra como é decisivo entender de onde vem o retorno.
Quando ele está baseado em:
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créditos reais,
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direitos já constituídos,
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contratos com fluxo de caixa identificável,
o risco existe, mas é mensurável.
Quando o retorno depende de estruturas opacas, documentos questionáveis e promessas vagas, o risco é de outra natureza. O caso Banco Master é um lembrete duro disso.
Além disso, a crise reforça a importância da diversificação. Ou seja, diluir o patrimônio entre diferentes emissores, prazos e tipos de ativo reduz a chance de um único evento comprometer boa parte da carteira.
Um passo seguinte possível: conhecer ativos com lastro real
Liquidação não é apenas uma notícia de mercado; é um aviso ao investidor de que a análise de risco precisa ir além da taxa.
Se você quer dar um próximo passo, uma alternativa é estudar ativos que tenham lastro claro e rastreável. Exemplo desses ativos são: créditos privados estruturados sobre contratos reais, precatórios, recebíveis empresariais ou direitos autorais. Sempre entendendo que não existe investimento sem risco, mas existe investimento com risco melhor definido.
Na Hurst Capital, parte relevante das operações é construída justamente sobre esse conceito de lastro real e transparência dos fluxos. Se fizer sentido para você, vale conhecer a página de oportunidades e entender, com calma, como esses ativos funcionam.
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