Carros
Conheça 4 dos principais colecionadores de carros do Brasil
Colecionar carros está se tornando um hobby cada vez mais comum – e lucrativo
5 min de leituraOs para-choques cromados adornando linhas atraentes e cores variadas que contam a história de uma época provocam empatia imediata. O universo dos carros antigos, antes restrito, está cada vez mais desenvolvido no Brasil, com o número de colecionadores aumentando rapidamente a partir da descoberta de um hobby que pode aliar estilo a uma excelente rentabilidade.
A consultoria americana Hagerty comparou os ganhos registrados de 2006 a 2014 em três aplicações: enquanto a bolsa de valores teve resultado quase estável e o ouro subiu pouco mais de 100%, os carros antigos tiveram alta de 250%. Um Jaguar E-Type dos anos 60, por exemplo, vale hoje três vezes mais do que em 2011. “Nenhum investimento rendeu tanto nos últimos 15 anos”, assegura o advogado Sérgio Magalhães Filho, um dos mais reconhecidos colecionadores de Porsche da América Latina.
Mas o chamado antigomobilismo requer conhecimento – seu funcionamento é uma mescla dos ramos de arte e de ações. Não é porque um Rolls-Royce dos anos 70 é avaliado em US$ 1 milhão que outro exemplar aparentemente igual terá o mesmo valor. São inúmeras variáveis e nuances em jogo, e o aconselhamento de quem já está no ramo há tempos é fundamental.
Gustavo Tannuri - 43 anos, Campinas - SP
A paixão do industrial Gustavo Tannuri por carros antigos começou há sete anos, o que faz dele um moço nesse meio. Ainda assim sua coleção ganhou importância pelo nível elevado, em especial de modelos Mercedes-Benz, além do estado absolutamente impecável dos veículos. Ele é capaz de ficar indignado ao descobrir um ínfimo pedaço de borracha fora do lugar na base da janela de um de seus antigos.
Tudo começou quando a esposa dele revelou que estava grávida. O avô, que já tentara colecionar carros antigos, deu de presente ao futuro neto uma reluzente picape Ford F1 vermelha 1947. “A partir daí descobrimos que o vírus da ferrugem sempre esteve na família”, diz.
Hoje, dos mais de 30 carros, 13 são Mercedes-Benz. A admiração começou com a compra de um 300 SEL V8 1970 que tem até “cheiro de coisa chique”, pelos materiais nobres aplicados em seu interior, como madeira de lei. Na garagem, construída para a coleção, já são três gerações do superclássico SL, sendo um deles um deslumbrante de 1961 – o mais valioso da coleção, ainda que ele não revele valores.
Também há lugar para outras marcas. O principal é um sexy Jaguar E-Type 1973, com motor V12, amarelo claro combinando com a capota preta. “A sensação de dirigir este carro é algo absolutamente único no mundo”, assegura.
Og Pozzoli - 85 anos, Cotia - SP
Além de seu inconfundível e vasto bigode, Og Pozzoli é reconhecido por ser uma espécie de sumidade no meio dos colecionadores de carros. Seu acervo, de quase 200 modelos, faz dele um dos mais importantes do mundo.
Com preferência por veículos fabricados do início do século XX até os anos 50, a coleção do empresário é tão rica que torna missão inglória destacar um modelo. Pode-se tentar, correndo o risco de errar, o Moon 6-45 Piton 1918, único de que se tem notícia no planeta – a montadora americana fechou as portas em 1930.
Há muito mais, como os carros que serviram a autoridades. Og os emprestava ao Itamaraty contanto que ele dirigisse, e assim já conduziu o Papa João Paulo II, o ex-presidente francês Charles de Gaulle e a Rainha Elisabeth II, do Reino Unido, que se queimou no banco de couro do Lincoln K Willoughtby Touring 1938 deixado de capota abaixada pelo cerimonial.
Porém a mais lendária passagem ocorreu com Giovanni Agnelli, todo-poderoso da Fiat, que ofereceu US$ 1 milhão por uma jardineira ano 1912 para o museu da montadora, em Turim. Og rejeitou a oferta. “Se aceitar vou continuar na mesma casa, tomando o mesmo vinho. A única diferença é não ter minha jardineira”. E Agnelli voltou para a Itália de mãos vazias.
Marcos Cardoso - 62 anos, Araçariguama - SP
O arquiteto Marcos Cardoso completa em 2016 meio século como colecionador de carros – o primeiro, um diminuto e simpático Ford Prefect 1948 preto, foi adquirido quando ele tinha apenas 13 anos, graças à soma de trocados recebidos como ajudante do pai desde os 5 anos. De lá para cá a coleção só aumentou e hoje ultrapassa facilmente a marca de 100 clássicos.
Diferente de outros colecionadores, Cardoso não segue uma linha ou padrão definidos: possui modelos de várias épocas e marcas. Os destaques são um mítico Jaguar Mark V 1951, um Oldsmobile 1937, um Ford T 1911, um Chrysler Imperial Airflow Limousine 1935 e um majestoso Rolls-Royce 1971 com volante do lado direito. Mas a joia é um Packard Custom Eight Limousine 1949, apenas 50 unidades produzidas – o modelo, único no país, vale cerca de R$ 450 mil.
Nesses 50 anos não faltaram dificuldades para manter a coleção. A maior delas sempre foi acomodar os carros em um único local: “Tinha uma chácara com 70 carros, mas para usar o último da fila era preciso tirar todos da frente”. Para resolver a questão ele montou uma empresa onde não só exibe seus carros como presta serviços de guarda e manutenção para outros colecionadores, além de vender alguns.
Sergio Magalhães - 72 anos, São Paulo - SP
Advogado ou colecionador de Porsche? É difícil definir como o paulistano Sérgio Magalhães Filho é mais conhecido. É fato, entretanto, que o hobby atualmente tenta sobrepor à profissão. Ele é um dos mais importantes colecionadores da marca no país, com um plantel de cerca de vinte exemplares extremamente representativos em sua garagem. Ali se viaja, em poucos metros, dos anos 50 até os 90, sempre acompanhando a evolução dos míticos esportivos alemães batizados por um mágico conjunto de três números: 356, 911, 914, 968...
A ligação de Sérgio com a marca começou com um fusquinha vermelho 1961, aos 18 anos. A adrenalina da juventude o fez equipar o tímido motor 1200 com peças do esportivo da mesma família – a Porsche nasceu pelas mãos de Ferri, filho de Ferdinand, criador do Volkswagen, que em 1948 transformou o então carro do povo em um modelo de competição.
Hoje a Porschemania envolve viagens aos mais prestigiados encontros de colecionadores do mundo em busca de carros e peças. A vivência nesses eventos moveu Sérgio a organizar o Encontro Porsche 356 e 911, que ocorre anualmente na Fazenda Boa Vista, no interior de São Paulo. “O Porsche é fantástico, inigualável. Você pode andar a 300 km/h ou usa-lo para ir ao mercado, pois é dócil quando necessário”.