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As maiores e mais valiosas cédulas do mundo e do Brasil

No mundo, há cédulas de valor tão alto que apenas uma nota já é suficiente comprar um carro no Brasil. Aqui, uma moeda fabricada no Império é a mais valiosa já produzida

Já fazia 18 anos que a família do real não recebia um novo membro. Em 1º de julho de 1994, quando o Plano Real substituiu o Cruzeiro, a Casa da Moeda do Brasil passou a produzir as cédulas de 1, 5, 10, 50 e 100 reais. A cédula de R$ 2 só foi lançada em 2001, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso; a de 20 reais, no ano seguinte. Mas desde a troca da moeda, o real não conhecia nenhuma cédula com valor superior à de R$ 100 - até o lançamento pelo Banco Central (BC), na quarta-feira, 2 de setembro, da cédula de 200 reais.

Segundo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a novidade tem como objetivo evitar o desabastecimento de papel-moeda pelo aumento da demanda de dinheiro em espécie observada desde o início da pandemia do coronavírus. “Em momentos de incerteza, é natural que as pessoas busquem a garantia de uma reserva em dinheiro”, afirmou durante o discurso de lançamento.

Após 26 anos de relativa estabilidade do real, uma cédula cujo valor é o dobro da maior conhecida, ou que pode resumir em apenas cinco notas o salário-mínimo em vigor no país, pode causar certo espanto. As dificuldades também já foram apontadas para questões como o troco ou mesmo o combate à lavagem de dinheiro. Embora a cédula de R$ 200 do Brasil seja a maior em valor em circulação, está longe de ser a mais valiosa (em cotação com as outras moedas) ou de maior valor nominal ao longo da história (aquele descrito na cédula, 1, 5, 10, 20).

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As campeãs que ninguém tem

Se analisado o valor bruto, as cédulas mais valiosas do mundo são britânicas. No Reino Unido, o Banco da Inglaterra emite uma cédula do tamanho de uma folha A4 chamada titã, no valor de 100 milhões de libras. Portanto, na cotação desta quinta-feira, 3 de setembro, esta cédula vale R$ 704 milhões. A seguir estão as cédulas chamadas gigante, emitidas pelo mesmo banco, no valor de 1 milhão de libras, isto é, R$ 7 milhões. 

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Contudo, talvez o ranking não seja justo com estas duas cédulas. Acontece que elas não têm circulação, não é possível sacar ou ter uma casa, ou seja, não fazem parte do dia a dia da população. Elas existem apenas guardadas em cofres de Londres, e são uma forma da Escócia e da Irlanda do Norte (nações integrantes do Reino Unido) emitirem sua própria moeda mantendo a cotação da libra (originária da Inglaterra e de Gales, os outros dois constituintes do Reino Unido).

Para cada nota escocesa ou norte-irlandesa emitida, uma deve ser depositada no Banco da Inglaterra. Porém, como manter milhões de cédulas em um cofre? Assim nasceu a titã e a gigante, sozinhas valendo por milhões de libras. As informações são da BBC.

As cédulas mais valiosas em circulação diária

A despeito das duas britânicas, inigualáveis em valor, outros países possuem cédulas de alto valor nominal (escrito) e que, comparadas ao dólar americano, também são campeãs em valor real. E o melhor - para quem tem uma - é que elas circulam entre a população de seus países, sendo utilizadas em transações comerciais. A moeda do comércio mundial, o dólar dos Estados Unidos, não entra nesta lista, por exemplo, embora ela seja o parâmetro para definir os vencedores. Isso porque a maior cédula de dólar americano é de US$ 100.

É importante distinguir: as cédulas mais valiosas do mundo não pertencessem, necessariamente, às moedas mais valorizadas do mundo. Por exemplo, atualmente, a moeda mais valorizada é o dinar do Kuwait. Um (1) dinar kuwaitiano, na cotação da quinta-feira, 3 de setembro, vale 3,27 dólares americanos ou R$ 17. No entanto, a cédula mais alta desta moeda é de 20 dinares, portanto, R$ 346 ou US$ 65. Logo, apesar de sua força, a moeda não entra na lista a seguir, que combina cédulas de alto valor nominal (10.000, por exemplo) com alta cotação perante o dólar.

Confira a seguir as cédulas mais valiosas do mundo, segundo o portal InfoMoney:

- 5º lugar: 500 euros

Pouco prática para o dia a dia do comércio, a cédula de 500 euros deixou de ser produzida, mas ainda circula
Pouco prática para o dia a dia do comércio, a cédula de 500 euros deixou de ser produzida, mas ainda circula (Foto: Frank Schwichtenberg/Wikimedia Commons)


A cédula de 500 euros é a nota mais alta em circulação dentro da Zona do Euro, o grupo de países que adotam o esta moeda europeia. Ela raramente é utilizada no dia a dia, já que os comerciantes têm dificuldade para ter troco e, com isso, o Banco Central Europeu decidiu descontinuar sua impressão em 2016. Assim, esta cédula está com os dias contados, mas, por ora, continua a valer bastante: R$ 3.133 ou US$ 591.

 

- 4º lugar: 1.000 dólares singapurianos

Singapura, além de ter a cédula mais valiosa em circulação no mundo, a de 10 mil dólares, também tem a quarta mais valiosa, a de 1 mil dólares
Singapura, além de ter a cédula mais valiosa em circulação no mundo, a de 10 mil dólares, também tem a quarta mais valiosa, a de 1 mil dólares (Foto: Reprodução/YouTube)

 

Segunda nota do mesmo país nesta lista, essa é mais comum entre os cidadãos de Singapura - tem uso mais cotidiano e é vista circulando pelo comércio. Equivale a US$ 732 ou R$ 3.882. Bem mais modesta que sua parente de 10 mil dólares, ainda assim, no Brasil, ela é suficiente para garantir um iPhone SE 128GB e receber troco, ou voar de Fortaleza para alguma das capitais latino-americanas, como Buenos Aires e Santiago, e ainda pagar parte da hospedagem; ou comprar oito cestas básicas na Capital cearense.

 

- 3º lugar: 1.000 francos suíços

A cédula de 1000 francos suíços não só continua em circulação como ganhou design novo em 2019
A cédula de 1000 francos suíços não só continua em circulação como ganhou design novo em 2019 (Foto: Reprodução /Banknote News)


A cédula de 1.000 francos da Suíça é a nota mais valiosa em circulação na Europa e, quiçá, em todo mundo ocidental. Atualmente, vale R$ 5.816 ou US$ 1.098. Com apenas uma delas seria possível comprar um PS4 novo ou um voo de ida e volta de Fortaleza (CE) para Nova York (EUA) ou até mesmo os dois, se pesquisar bem.

 

- 2º lugar: 10 mil dólares bruneanos

A segunda nota mais valiosa do mundo, os 10 mil dólares de Brunei perdem por pouco para os 10 mil dólares singapurianos
A segunda nota mais valiosa do mundo, os 10 mil dólares de Brunei perdem por pouco para os 10 mil dólares singapurianos (Foto: Reprodução /Banknote News)


Brunei é um pequeno sultanato asiático de maioria islâmica com imensas reservas de petróleo. Também é o segundo lugar desta lista com a nota de 10.000 dólares bruneanos, com valor quase igual ao do dólar singapuriano. A diferença é pequena: ela vale US$ 7.324 (dólares americanos) e R$ 38.770 , respectivamente, apenas US$ 3 a menos e R$ 47 a menos que a mesma cédula de Singapura.

 

- 1º lugar: 10 mil dólares singapurianos

A nota mais valiosa do mundo, a cédula de 10 mil dólares de Singapura, uma cidade-Estado asiática
A nota mais valiosa do mundo, a cédula de 10 mil dólares de Singapura, uma cidade-Estado asiática (Foto: John Wah/Flickr)

O dólar de Singapura, uma cidade-Estado asiática, é a recordista mundial de maior valor em um única nota: a cédula de 10 mil dólares singapurianos corresponde a R$ 38.817. Sozinha, corresponde a US$ 7.327 (dólares americanos). Com apenas uma única nota, é possível, por exemplo, comprar um dos carros mais baratos do Brasil, como o Renault Kwid (R$ 34.990), um Fiat Mobi (R$ 35.990) ou oito iPhones SE 256 GB (R$ 4.499), o último lançado aqui, e ainda ficar com um troco de mais de R$ 2 mil.

 

Os milhões e trilhões da hiperinflação

Há não muito tempo, a hiperinflação trouxe caos ao Brasil, sufocou as finanças das famílias e perturbou os estabelecimentos comerciais brasileiros através do descontrole dos preços, que amanheciam em um patamar e anoiteciam noutro valor, corroendo qualquer ganho que os trabalhadores poderiam vir a ter em seus rendimentos.

Além de todos os problemas pelos quais é conhecida, a hiperinflação também é identificada como uma mãe fértil de cédulas com valores nominais astronômicos que possuem valor real, poder de compra, semelhante a alguns centavos. O caso mais absurdo, provavelmente, ocorreu no Zimbábue em 2008, quando foram emitidas notas de 100 trilhões - sim, trilhões - de dólares zimbabuanos. São 14 zeros em uma cédula.

No ano de lançamento, a nota equivalia a US$ 30 (dólares americanos). No país mesmo, alguns dias após o início da circulação, já não servia para nada. Em 2015, o Zimbábue foi desmonetizado, isto é, ficou sem moeda própria e começou a utilizar a de outros países. Segundo o blog Cara ou Coroa, do portal UOL, na conversão, a cédula de cem trilhões ficou valendo 40 centavos de dólares ou R$ 1,50.

 

A cédula de meio milhão de cruzeiros é a de maior valor nominal produzida na história recente, mas na prática, vale pouco
A cédula de meio milhão de cruzeiros é a de maior valor nominal produzida na história recente, mas na prática, vale pouco (Foto: Reprodução)

Embora o caso do país africano seja um extremo, há paralelos semelhantes na América Latina e até mesmo na Europa. A Alemanha do período entreguerras, da República de Weimar, viu sua moeda, o marco alemão, anteriormente conhecida pela estabilidade, cair em uma espiral de desvalorização. Lançou também uma nota na casa dos trilhões, a cédula de cem trilhões de marcos, que valia tão pouco que muitos alemães a utilizavam para acender fogueiras - pois seria mais barato que comprar lenha.

Em 2019, a Venezuela, que vive hoje com a maior hiperinflação do planeta, lançou uma nota de 50 mil bolívares - segundo a cotação da sexta-feira, 4, o equivalente a R$ 0,79. O problema do país bolivariano, no entanto, não é desconhecido do Brasil, que, ao longo de toda a década de 1980, viveu a hiperinflação. Em 1993, ano anterior ao Plano Real, chegamos a lançar a nota de maior valor nominal da história recente brasileira, a cédula de 500 mil cruzeiros. A nota, estampada com a efígie do escritor Mário de Andrade, circulou de janeiro a agosto e caiu em desuso com a transição para o real.

 

A moeda brasileira mais valiosa no mercado

Como já visto, o papel-moeda possui valores nominais (escritos) e valores reais (poder de compra, cotação), contudo, há ainda outro ativo no mercado que pode elevar o preço de uma cédula ou uma moeda: seu valor histórico. A despeito de hoje circular comumente a imagem de dom Pedro I na moeda de 10 centavos, a segunda menor do País, é também o rosto do primeiro imperador brasileiro que estampa a moeda mais valiosa já cunhada no Brasil.

A moeda de 6.400 réis feita para comemorar a coroação de Pedro I. Em 2014, uma destas chegou a ser vendida por quase 500 mil dólares nos Estados Unidos. Na época, só foram produzidas 64 destas peças raras que exibem o busto do imperador. “Diz a história que dom Pedro I não gostou dessa moeda, da forma como ele tava representado, com o busto nu, semelhante aos imperadores romanos”, explica Bruno Pellizzari, diretor social e de divulgação da Sociedade Numismática Brasileira (SNB).

 

Moeda de 6.400 réis comemorativa da coroação de Pedro I como o imperador do Brasil
Moeda de 6.400 réis comemorativa da coroação de Pedro I como o imperador do Brasil (Foto: Divulgação)

 

Atualmente, só é conhecido o paradeiro de 16 destas moedas. Duas, por exemplo, estão no Museu de Valores do Banco Central, em Brasília; uma no Itaú Cultural em São Paulo; outra no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Entre os colecionadores, portanto, é, de fato, um artefato de desejo. Entre os fatores que compõem o preço pago por estes itens estão o estado de conservação, possíveis erros de cunhagem, datas específicas (como as moedas de 1 real comemorativas das Olimpíadas de 2016), a procura de mercado. Mas o principal critério é a tiragem: quanto menor, mais rara e mais disputada.

A moeda de coroação de Pedro I é a de maior de mercado entre as cunhadas no Brasil, mas, pelo mundo, alguns destes itens alcançaram valores dignos de competir com o exclusivo mercado das artes. Em 2013, um dólar americano de prata Flowing Hair de 1794 (a primeira moeda cunhada pelo governo federal dos Estados Unidos) foi arrematada por 10 milhões de dólares.

A numismática é a ciência que estuda as cédulas, as moedas, as medalhas de um país, mas o termo acaba por aninhar também colecionadores e amadores. Por todo o Brasil existem lojas especializadas e plataformas de leilão para negociação destas moedas especiais. Algumas são recentes, como a cédula comemorativa de R$ 10 lançada no ano 2000, com a efígie de Pedro Álvares Cabral e outros elementos alusivos à chegada dos portugueses ao Brasil.

Além da efeméride, a nota se destaca por ser a única na história brasileira a ser feita de polímero, um plástico. Em sites de vendas como o Mercado Livre, a cédula de plástico de R$ 10 é vendida a partir de R$ 50. Na mesma plataforma, é possível encontrar a cédula de 100 trilhões de dólares zimbabuanos por R$ 350, valor muito superior ao que já alcançou enquanto circulou no seu país de origem.

 

A frase "Deus seja louvado" é inscrita no papel-moeda brasileiro desde o governo Sarney, ainda que a moeda tenha mudado
A frase "Deus seja louvado" é inscrita no papel-moeda brasileiro desde o governo Sarney, ainda que a moeda tenha mudado (Foto: Agência Brasil)

Outra da história recente que se destaca é a de uma pequena tiragem de cédulas do Plano Real, que saiu sem a frase “Deus seja louvado”. Alvo de vários questionamentos, a expressão chegou a ser questionada na Justiça em função da laicidade do Estado brasileiro, mas acabou recebendo sentença favorável à permanência. Contudo, naquele período seminal para o real, ela ficou alguns meses de fora das cédulas.

A maioria destas cédulas sem a frase recebe a assinatura do então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso e de Pedro Malan, presidente do Banco Central. A inscrição, inserida no papel-moeda brasileiro desde o governo Sarney, voltaria a ser impressa pelo substituto de FHC, Rubens Ricupero.

Mas, antes de ser restabelecida, três séries ainda foram impressas sem a frase e com a assinatura de Ricupero e Malan. Cada série tem 100 mil notas, uma tiragem muito pequena para os padrões. FHC, por exemplo, assinou quase duas mil séries. Em reportagem em 2012, o jornal Estadão destaca que, à época, uma cédula de R$ 100 destas sem “Deus seja louvado”, assinada por Ricupero e Malan, em bom estado de conservação, era vendida entre colecionadores por até R$ 2.800.

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