Hora de Investir

Por Júlia Lewgoy, Valor Investe — São Paulo

Desde ontem (5) à noite, você, pequeno investidor, está convivendo com um mar onde nunca navegou antes. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou a taxa básica de juros, a Selic em 0,25 ponto percentual, para 2% ao ano.

O Brasil nunca teve juro tão baixo e uma das consequências é que você será obrigado a tentar novos investimentos para preservar os rendimentos passados — já que muitas aplicações financeiras de renda fixa têm sua rentabilidade atrelada a essa taxa.

Com essa queda da Selic, o Brasil passa agora a ter juros reais, descontada a inflação, negativos de 0,71% nos próximos 12 meses, segundo cálculo da Infinity Asset. O país passa a ocupar a 26ª posição no ranking de 40 nações, de acordo com a gestora.

Nesse cenário, para que o dinheiro não perca valor, é preciso buscar investimentos que rendam acima dos 2,97% de inflação esperada para os próximos 12 meses, segundo o boletim Focus, divulgado na última segunda-feira (3) pelo BC, com estimativas para os principais indicadores econômicos.

Ou seja, para ter juros reais positivos, é necessário ir atrás de retornos de 156% do CDI, uma taxa quase igual à Selic que determina o rendimento de diversas aplicações financeiras

Depois dessa redução, até então, a expectativa era que não houvessem novos cortes na Selic neste ano, segundo o boletim Focus. Para o final de 2021, a previsão era que a Selic estivesse em 3% ao ano. No ano seguinte, a previsão era que a taxa chegasse a 5% ao ano, e ao final de 2023, a 6% ao ano.

No entanto, nas partes finais do comunicado do Copom de ontem, em que sinaliza seus próximos passos, o comitê sinalizou que o espaço para outros cortes ficou ainda mais estreito. Ou seja, deixou uma porta aberta para novos ajustes. Aos que achavam que a Selic ficaria necessariamente em 2% ao ano até dezembro, pode não estar mais tão certo assim.

Quando o Copom reduz juros, a tendência, ao menos em tese, é que o crédito fique mais barato e que as empresas e as pessoas produzam e consumam mais. É um jeito de estimular que a economia saia da crise do novo coronavírus mais rapidamente. Já quando o Copom aumenta juros, os empréstimos tendem a ficar mais caros e o objetivo é conter a demanda e, assim, baixar os preços.

Dá para cortar juros agora porque o cenário de inflação está muito tranquilo. Porém, isso pode mudar à medida que a economia dê sinais de reação. Mesmo assim, investidores não poderão mais contar com o paraíso da Selic em dois dígitos sem muito risco e sem ter algum trabalho nos próximos anos, segundo a perspectiva de grande parte dos analistas.

Navegar nesse novo mar exige transformar o jeito de investir e existem três rotas possíveis: encarando mais volatilidade, para quem se sente confortável com a ideia de correr o risco de perder algum dinheiro no caminho, alongar o prazo dos investimentos de renda fixa para conseguir taxas mais altas, ou buscar títulos de renda fixa de bancos e empresas pequenas e médias.

Mas a reserva de emergência é para ficar no mesmo lugar de sempre: em produtos básicos e conservadores, mas sem abrir mão da rentabilidade mínima aceitável, ou seja, 100% do CDI, uma taxa quase igual à Selic.

O ideal é ter um caixa equivalente entre 12 e 24 meses de custos fixos, segundo Francisco Levy, planejador financeiro certificado pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar). Mas, como é muito difícil formar tudo isso, ele recomenda ter um colchão de pelo menos seis meses.

Só o que não é reserva de emergência você pode se dar ao luxo de ver cair e esperar os ativos voltarem à normalidade, sem que isso te afete emocionalmente e sem que você precise resgatar para fazer frente a compromissos”, diz Levy.

Tesouro Selic, conta de banco digital que remunera 100% do CDI e fundos do tipo simples com taxa zero, em plataformas como Órama, BTG, Pi e Rico, são boas alternativas. Aqui, você vê as vantagens e as desvantagens de cada opção.

No mês passado, a B3 e o Tesouro Nacional zeraram a taxa de custódia das aplicações de até R$ 10 mil em Tesouro Selic, na tentativa restabelecer a competitividade da aplicação como reserva de emergência do brasileiro. Até então, essa taxa era de 0,25% ao ano sobre tudo que estava aplicado.

Já fiz minha reserva de emergência. E agora?

Ok, você já fez sua reserva de emergência. E agora? Aí sim você pode destinar o excedente da sua reserva de emergência para outros investimentos, atrás de mais retorno. No entanto, para escolher os produtos, você precisa ter claro quais são seus objetivos — o que você deseja fazer com o dinheiro e quando pretende usá-lo — e quanto risco está disposto a correr.

Se você pretende casar daqui a um ano ou fazer um doutorado daqui a dois anos, por exemplo, é recomendável escolher investimentos alinhados com esses prazos. “Mesmo tendo tolerância a risco, só bote o dinheiro na bolsa pensando em, no mínimo, dois anos”, aconselha Marco Harbich, estrategista da Terra Investimentos.

Para objetivos para serem realizados em um ou dois anos, ele aconselha fundos multimercados de baixa volatilidade (menos de 5% ao ano), para quem topa algum risco. Esses fundos podem mesclar diversos ativos e, com essa mistura, o gestor especializado pode conseguir retornos mais altos. Mas atenção: quanto menor a volatilidade, menor devem ser as taxas cobradas nesses fundos.

Já quem não quer ver seu extrato no negativo de jeito nenhum vai ter que ficar na renda fixa, mas abrindo mão de liquidez, ou seja, da possibilidade de resgatar o dinheiro a qualquer momento, de acordo com Harbich. Títulos do Tesouro Direto ou CDBs, de bancos, pagam mais quanto maior o prazo, porque o risco das expectativas para a economia mudarem no período é maior.

Na renda fixa, fora a reserva de emergência, Harbich sugere comprar CDBs de bancos médios ou pequenos pós-fixados, que paguem 130% do CDI e não tenham liquidez diária. “Compre CDBs de prazo mais curto, um ano, no máximo, para usar o dinheiro logo. Em cinco anos, não temos a mínima noção do que vai acontecer. A incerteza é muito grande”, diz.

João Lux, analista de produtos da CM Capital, concorda que o ideal neste momento é buscar rendimentos pós-fixados para acompanhar a retomada da alta dos juros, que pode acontecer nos próximos anos. No entanto, para objetivos de médio prazo, Lux gosta da ideia de investir em produtos que sejam atrelados à inflação, seja no Tesouro Direto ou CDBs, para o investidor não perder o seu poder de compra.

Ou seja, apesar das taxas mais altas serem pegas pelos títulos de prazo mais longo, o analista acha uma boa ideia investir em títulos indexados ao IPCA de prazo mais curto, se for para casar o período do investimento com os objetivos do investidor.

“Se você tem um objetivo bem mapeado, tem capital hoje e tem liberdade de decisão, com informação precisa, consegue tomar a melhor decisão”, diz Lux. E ele também não aconselha bolsa para objetivos de um a dois anos. “Não recomendo bolsa ou fundo de ações para agora. Estamos em um cenário de muita volatilidade. Mas se você tem objetivo de longo prazo e perfil para isso, é sim uma excelente opção.”

Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, acha que há ótimas oportunidades em CDBs prefixados de bancos pequenos e médios, de prazos longos, pagando até 12% ao ano. “É quase 1% ao mês em um horizonte de tempo de oito anos e a Selic não vai ficar em dois dígitos nesse tempo”, avalia. No entanto, por menor que seja, há, sim, o risco da taxa básica de juros subir e o investidor permanecer preso em uma taxa prefixada.

Onde investir com mais risco

Se você não se importa de ver uma parte do seu dinheiro ir para cima e para baixo e pode deixar os valores investidos por mais de dois anos, aí, sim, pode encarar a renda variável. Comprar ativos arrojadíssimos pensando no curto prazo pode levar a perdas e a mais frustrações - fora que você perde a oportunidade de se alfabetizar como investidor.

Para quem está começando, especialistas recomendam colocar de 5% a 10% do patrimônio em um fundo de ações e, a partir daí, ir aumentando a parcela.

Carvalho, da Toro Investimentos, sugere começar na renda variável investindo em ETFs, que são fundos de investimentos que replicam índices de referência. O “BOVA11”, que busca refletir a performance do Ibovespa, principal índice de referência da bolsa brasileira, e o “IVVB11”, que replica, em reais, a performance do S&P500, o índice norte-americano que reúne as 500 maiores companhias de capital aberto dos Estados Unidos, são boas opções, segundo Carvalho.

Para quem quer experimentar comprar ações diretamente, o analista aconselha investir em papéis de grandes empresas que ainda não recuperaram os preços pré-pandemia, como Petrobras, bancos e varejistas do comércio eletrônico.

Seja via fundos de ações, ETFs, ou papéis diretamente, Carvalho sugere que o investidor não acompanhe o investimento diariamente e que, se tiver caixa, realize compras recorrentes da mesma ação, para conseguir um preço médio. “Ainda vai ter muita movimentação externa, China e Estados Unidos, medicamentos, vacina, eleições norte-americanas, reforma tributária. O investidor de renda variável vai ter que ter paciência e resiliência”, diz.

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