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Música gravada gera US$ 26 bi no mundo em 2022; Brasil volta a top 10
Publicado em 21/03/2023

Relatórios da IFPI (global) e da Pro-Música (local) mostram forte crescimento do setor, com hegemonia absoluta do streaming

Por Alessandro Soler, de Madri

Gráficos: reproduções dos relatórios da IFPI e da Pro-Música

Os mercados mundial e brasileiro de música gravada desfrutam da bonança depois da tempestade da pandemia e engatam outro ano mais de forte crescimento. Em dois relatórios publicados esta quinta-feira (21), em Londres e Rio de Janeiro, a IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica) e sua equivalente nacional, a Pro-Música (Produtores Fonográficos Associados), mostram que globalmente a música gravada gerou US$ 26,2 bilhões (R$ 137,5 bilhões pelo câmbio atual) e, localmente, R$ 2,526 bilhões em 2022. 

Esta última cifra, recorde de todos os tempos em valores nominais, posiciona o Brasil como o 9º maior mercado do mundo. Assim, o país volta a um top 10 do qual havia saído em 2020, por questões cambiais e uma queda particularmente acentuada na atividade artística derivada do coronavírus. 

LEIA MAIS: O relatório da IFPI (em inglês)

LEIA MAIS: O relatório da Pro-Música

 

No mundo, a IFPI apurou um salto de 9% na música gravada entre 2021 e 2022. O streaming, como previsto, ampliou ainda mais sua participação percentual, respondendo por 67% das receitas da música em todo o mundo - ou US$ 17,5 bilhões, em valores nominais. Com exceção da modalidade downloads digitais, em franco desuso globalmente (mas não no Brasil, como você verá mais abaixo), todas as outras tiveram expansões, inclusive as mídias físicas como CDs e vinis: +4%, gerando US$ 4,6 bilhões, ou ainda muito sólidos 17,5% do total. O maior crescimento, porém, foi no segmento de sincronização de música em obras audiovisuais (+22,3%). Este dado reafirma o excelente momento para a composição de trilhas sonoras, e o valor total gerado (US$ 640,4 milhões), relativamente baixo, mostra que o filão tem grande capacidade de crescimento nos próximos anos.

A CONTRIBUIÇÃO DE CADA SEGMENTO PARA AS RECEITAS DA MÚSICA GLOBAL EM 2022:

A chefe executiva da IFPI, Frances Moore, celebrou os bons resultados do ano e os atribuiu a investimentos em tecnologia e artistas por parte das gravadoras. 

"A música continua a crescer globalmente, e os artistas estão cada vez mais interconectados com seus fãs, como resultado de uma infraestrutura global criada pelas gravadoras. O ponto central na missão da indústria fonográfica continua a ser buscar parcerias com os artistas para ajudá-los a alcançar o máximo do seu potencial criativo e comercial. Hoje, essa parceria se expandiu a mais áreas e a mais partes do mundo, ao passo que as gravadoras têm centrado suas energias em inovação."

NO BRASIL, ACELERAÇÃO E ANIMAÇÃO

No Brasil, a pujança do mercado local fica evidente quando se analisa a evolução dos últimos quatro anos apenas. Desde 2019, os valores em moeda local gerados pela música gravada mais do que dobraram — só entre 2021 e 2022 a expansão foi de 15,4%. Streaming e execução pública de direitos conexos (aqueles destinados a intérpretes, músicos e produtores fonográficos) representaram, juntos, 99% do arrecadado. 

Só os valores oriundos de plataformas como Spotify, Apple Music, Amazon e Deezer, entre outras, somaram quase R$ 2,2 bilhões, 86,2% do total produzido pela música gravada no Brasil em 2022. E um dado interessante: as assinaturas premium das plataformas, com R$ 1,342 milhões de reais (maior número de todos os tempos), contribuíram, sozinhas, com mais da metade de tudo o que a indústria movimentou. Este dado explica, em números, a campanha que tem se espalhado pelo mercado para que as plataformas corrijam os valores das assinaturas cobradas aos usuários, sem reajustes em mercados maduros como Europa, Estados Unidos e Japão há mais de dez anos — no Brasil, o último aumento foi em 2021, antes, portanto, da forte escalada inflacionária recente.

Contudo, as receitas geradas pela modalidade freemium das plataformas, aquela movida a anúncios, também cresceram no Brasil — 35,2% em só um ano — e somaram R$ 447 milhões. Vídeos musicais em streaming, categoria que inclui o YouTube, por exemplo, geraram R$ 386,6 milhões, o que dá uma ideia da distância que ainda existe entre os montantes pagos por esta plataforma e aqueles oriundos do streaming de áudio.

As vendas físicas, embora muito aquém das receitas geradas pelo digital, com só 0,5% do total da indústria no país, vêm mostrando alguma resiliência, apesar da queda de 3% em relação a 2021. Com R$ 6,7 milhões gerados, os CDs ainda respondem por mais da metade dos R$ 11,8 milhões totais desse segmento, com os vinis — em curva continuamente ascendente de vendas — somando R$ 4,7 milhões.

Chamam a atenção no Brasil dois números referentes a segmentos com participações pequenas no total do bolo: sincronização e downloads. Enquanto a sincronização ainda gera muito pouco dinheiro, só R$ 6 milhões em 2022, o crescimento foi forte em relação a 2021, de 19,1%.

Já os downloads, no nosso país, vivem um panorama oposto ao da média do mundo e tiveram um salto de 43,2%, o que reflete muito mais movimentos locais — como acordos entre operadoras de celulares e lojas online de descarga de canções — do que um particular apego do brasileiro ao formato.

“As estatísticas do mercado de música gravada no ano de 2022, primeiro período após a pandemia de 20/21, continuam a mostrar a consolidação do streaming como formato amplamente dominante na distribuição de música em áudio e vídeo no Brasil”, diz Paulo Rosa, presidente da Pro-Música. “São seis anos consecutivos de crescimento no mercado brasileiro, a taxas sempre acima da média mundial do setor. Este crescimento ou, melhor dizendo, recuperação se deve ao desenvolvimento do streaming como principal modelo de negócio do setor fonográfico.”

SOMBRAS A MÉDIO E LONGO PRAZOS

Internacionalmente, há alguns dias, o analista Mark Mulligan, da plataforma MIDiA Research, já havia antecipado um crescimento acentuado no mercado global de música movido a streaming. Mas, na ocasião, ele lançava sombras sobre a festa dos números e mostrava que há sinais mais claros de uma desaceleração da mais importante modalidade de distribuição de música. Uma das provas disso seria o crescimento significativamente menor do streaming em 2022 (US$ 1,5 bilhão a mais que em 2021, nas contas do seu estudo; US$ 1,8 bilhão, nos números oficiais da IFPI), enquanto em 2021 o salto havia sido de US$ 4,2 bilhões, pelos cálculos de Mulligan (US$ 3,3 bilhões, segundo a IFPI).

Com números próprios, aliás, o levantamento de Mulligan estabeleceu em US$ 31,2 bilhões o tamanho do mercado de música gravada em 2022, enquanto o total da IFPI não chegou a isso, ficando nos US$ 26,2 bilhões.

"A desaceleração no streaming ano passado foi sustentada por: a) uma desaceleração do crescimento de assinaturas em mercados maduros; b) uma desaceleração nas receitas advindas de anúncios, refletindo uma dinâmica mais ampla do mercado publicitário. O crescimento dos assinantes (premium) foi significativamente mais forte, subindo 13,7%, para 652 milhões globalmente. No entanto, as regiões mais maduras da América do Norte e da Europa representaram apenas um terço do crescimento", escreveu o analista. 

Como ele raciocina, as assinaturas em mercados em desenvolvimento, como o Brasil, costumam ser consideravelmente mais baratas que aquelas pagas pelos consumidores dos países ricos, o que se traduz numa menor receita média por usuário (ARPU, na sigla em inglês). Portanto, movido a expansões lideradas pelo mundo emergente, o streaming viverá um quadro paradoxal nos próximos anos: taxas de crescimento espetaculares em seus números de assinantes, mas menos dinheiro gerado. O que leva a um inevitável questionamento: de que maneira, e em que nível, o digital continuará a ser a coluna de sustentação da indústria musical global daqui para a frente?

 

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