Mercado reage bem às expansões nas receitas e na base de assinantes premium, e ações disparam nesta terça (25)
Por Alessandro Soler, de Berlim
Detalhe da fachada da sede mundial do Spotify em Estocolmo: mercado animado com números positivos da plataforma. Foto: Shutterstock
O Spotify cresceu acima do esperado no primeiro trimestre de 2023 e, por ora, parece afastar temores do mercado sobre a sustentabilidade do negócio. Num briefing do seu relatório trimestral apresentado a investidores nesta terça-feira (25), ao qual a UBC teve acesso, a companhia revela que, movida pela América Latina e pela Europa, sua base de assinantes premium saltou 5 milhões entre janeiro e março, ou 15% de aumento em relação ao mesmo período do ano passado. Trata-se de uma aceleração em relação aos 13% do último trimestre de 2022. Agora, são 210 milhões os assinantes pagantes da maior plataforma de streaming do mundo.
O número de usuários mensais também cresceu com força: 22% no trimestre, contra 20% do trimestre anterior. A previsão da própria empresa era de que 15 milhões de ouvintes se somariam à sua base mensal; foram muitos mais, 26 milhões, maior aumento trimestral desde a saída em bolsa, em 2018. Com isso, já são 515 milhões as pessoas, entre pagantes e não pagantes, que usam o Spotify a cada mês.
Apesar de a maior parte deles (317 milhões) não ser assinante, as receitas com publicidade que eles geram ao navegar na plataforma contribuíram para outro bom resultado: a alta de 13% no faturamento do gigante sueco, que fechou o primeiro trimestre de 2023 com receitas totais de € 3,04 bilhões. Desse montante, € 329 milhões vieram de anúncios; e € 2,7 bilhões, de assinaturas diretas.
Como já noticiamos em repetidas ocasiões aqui no site, o único ponto que ainda falha nos balanços do Spotify — e de todas as outras plataformas exclusivamente dedicadas ao streaming musical — é a sua incapacidade de gerar lucro. Os cerca de 30% da receita que acabam ficando com as próprias empresas, na hora de distribuir os ganhos entre as partes (plataformas, gravadoras, autores/compositores e outros titulares), têm sido insuficientes para gerar números em azul. O prejuízo operacional do Spotify, no entanto, foi menor que o do último trimestre de 2022 — € 156 milhões, contra os € 231 milhões daquele período.
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O anúncio de tantos números positivos animou o mercado, e as ações negociadas na bolsa de Estocolmo sobem mais de 8% hoje. Além disso, o Spotify anunciou metas ambiciosas para este trimestre em curso, que termina em junho: alcançar 217 milhões de assinantes premium e 530 milhões de usuários mensais.
“Estamos muito animados por esse forte começo de 2023”, resumiu a plataforma, num comunicado sem assinatura difundido entre imprensa e investidores. “A performance em algumas campanhas regionais (para a obtenção de novos assinantes) foi excelente. Também houve um crescimento contínuo nos planos de multiusuários (como os planos familiares)”, explicou o Spotify.
Os próximos trimestres poderiam ver impactos ainda mais positivos caso o Spotify decida subir os preços das assinaturas, congelados, no caso de mercados desenvolvidos, há mais de dez anos. Para boa parte do universo da gestão coletiva de direitos autorais, esta também seria uma solução que melhoraria os ganhos de autores e compositores, destinatários de cerca de 3% da distribuição total do streaming atualmente.
O Spotify continua a fazer mistério sobre sua política de preços, um tema altamente sensível num universo competitivo como o do streaming, no qual players como Amazon Music e Apple Music, por exemplo, conseguem oferecer planos de assinatura baratos, dado que a música não é o principal negócio das holdings por trás dessas plataformas.
Em vez disso, analistas de sites especializados no mercado musical, como o Music Ally, temem que os suecos decidam seguir amparando seu crescimento na política de forte redução de custos operacionais implementada desde o ano passado. Só neste trimestre, o Spotify já demitiu ou ainda demitirá um total de 600 trabalhadores em diferentes escritórios da empresa globalmente. Isto significa 6% da força de trabalho total. Novos cortes, temem os especialistas, poderiam impactar negativamente a própria operação, o que, no longo prazo, se traduziria numa incapacidade de sustentar novos crescimentos.
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