Nesta sétima carta de grandes gestores, trouxemos a continuação do texto de Howard Mark sobre incertezas no cenário econômico, publicado pela Oaktree Capital Management, maior gestora do mundo de ativos alternativos.
Este artigo abordará algumas dualidades como em qual especialista devemos acreditar e quais são as consequências dos impactos no cenário atual.
Visão de parte do todo
Hoje em dia, as pessoas são bombardeadas com visões conflitantes sobre reabrir rapidamente a economia ou não. Nisso, a busca por especialistas no assunto começa a aumentar. Mas, antes de escolher quem representará os seus interesses é necessário considerar a experiência. Devemos então desconfiar de algumas tendências perigosas em nossa sociedade.
Vemos médicos ou funcionários da saúde pública na TV contra a reabertura rápida da economia. Eles podem muito bem saber muito mais do que a maioria dos outros profissionais sobre os aspectos médicos e de saúde pública do coronavírus e como ele deve ser tratado. E é provável que seus conselhos mantenham maioria das pessoas vivas.
Mas, como não são economistas, devemos assumir que estão apenas respondendo do ponto de vista a minimizar as mortes. Eles podem não levar em consideração a importância de reiniciar a economia ou tentar equilibrar as duas considerações.
Por outro lado, vemos empresários e economistas falando sobre a necessidade de realizar a reabertura, a fim de minimizar os danos causados à economia por mantê-la em um congelamento profundo. No entanto, o que eles sabem sobre o custo da vida humana? E certamente não há algoritmo ou processo aceito para decidir entre os dois. É uma questão de julgamento, não de conhecimento.
Dessa forma temos que, (a) a verdadeira experiência é escassa e limitada em escopo; (b) a experiência e a capacidade preditiva são duas coisas diferentes e; (c) todos devemos ter cuidado com quem ouvimos e quanto peso atribuímos a seus pronunciamentos.
Eventos finais são o que importa
No investimento, as consequências do risco compõem a maioria das manchetes diárias. Mas as consequências finais do risco – como pandemias e depressões – são o que fazem as páginas dos livros de história. Elas são tudo o que importa. Elas são tudo em que você deve se concentrar.
No mesmo período em que o Federal Reserve estabeleceu as taxas de juros em 0,25% ou 0,5% por causa de um vírus, 36 milhões de pessoas perderam o emprego.
Isso introduz um dos grandes enigmas associados ao cenário de incertezas dos investimentos. Como não sabemos nada sobre o futuro, não temos escolha a não ser confiar na extrapolação de padrões passados.
Por “padrões passados” queremos dizer o que normalmente aconteceu no passado e qual foi a gravidade. E, no entanto, não há razão para que (a) as coisas não possam acontecer como ocorreram no passado e; (b) eventos futuros não possam ser piores que os do passado em termos de gravidade e consequências.
Embora procuremos orientação no passado para o “pior caso”, não há razão para que a experiência futura se limite à do passado. Mas, sem depender do passado para nos informar sobre o pior caso, não podemos saber muito sobre como investir nosso capital ou viver nossas vidas.
Eventos raros
Muitos anos atrás, meu amigo Ric Kayne apontou que 95% de toda a história financeira acontece dentro de dois desvios padrão. Assim, tudo de interessante acontece fora do intervalo de confiança.
Indiscutivelmente, bolhas especulativas e acidentes de grande magnitude, como a pandemia global, caem fora dos dois desvios padrão, mas são os eventos que criam e eliminam as maiores fortunas. Não podemos saber muito sobre sua natureza ou dimensões, uma vez que são acontecimentos raros e exógenos (imprevisíveis).
Quando se trata de um cenário de incertezas, como podemos nos preparar para algo se não o podemos prever? Por outro lado, se os eventos extremos e exógenos mais influentes são imprevisíveis, como podemos nos preparar para eles? Podemos fazer isso reconhecendo que eles inevitavelmente ocorrerão. Assim, como prevenção, tornemos nossas carteiras mais cautelosas quando o desenvolvimento econômico e o comportamento dos investidores tornarem os mercados mais vulneráveis a danos causados por eventos indesejáveis.
Essa linha de raciocínio sugere um vislumbre de boas notícias: podemos não ser capazes de prever o futuro, mas isso não significa que não temos poder para lidar com isso.
Para ler o texto na íntegra acesse:
https://seekingalpha.com/article/4350680-latest-memo-from-howard-marks-uncertainty-ii